CAPÍTULO I – PRAŚNA MĀRGA
1. ORAÇÃO
Śloka 1 — Eu ofereço minhas sinceras preces a Bhagavān Viṣṇu, para que minha mente se torne iluminada (buddhi), expandida (vṛddhi) e perfeita (siddhi).
Śloka 2 — Eu saúdo meus preceptores (gurus) e os planetas (grahas), para que abençoem minha fala com pureza e verdade.
Śloka 3 — Eu me curvo diante de meu Guru Mangalasseri, cujos discípulos, sendo doutores da ciência, são grandes videntes do futuro.
Śloka 4 — Eu saúdo meu Deus local, Śiva, e exponho Praśna Mārga (O Caminho do Praśna) para o benefício de meus discípulos.
NOTAS DA TRADUTORA — Todos os autores que escrevem em sânscrito sobre Jyotiṣaśāstra iniciam suas obras prestando reverências a Deus (īśvara), aos seus gurus e aos nava-grahas. Eles reconhecem que essa entrega inicial (praṇāma, stuti, namaskāra) não é mera formalidade, mas um ato essencial para invocar a graça das forças superiores, assegurando que seu intelecto seja abençoado com clareza (buddhi), expansão (vṛddhi) e perfeição (siddhi) ao longo do processo de composição. Assim, reafirmam a conexão inquebrantável entre conhecimento, devoção e tradição, entendendo que a verdadeira sabedoria astrológica não pode surgir apenas de esforço intelectual, mas deve ser sustentada pelo favor divino e pelo legado vivo da linhagem (paramparā).
2. O QUE COMPREENDE A ASTROLOGIA
Śloka 5 — A antiga ciência astrológica (jyotiṣa śāstra) é dividida em três skandhas (seções principais) ou seis aṅgas (ramos). Os três skandhas são: Gaṇita, Saṁhitā e Horā.
Śloka 6 — Os ṛṣis (sábios) classificaram o grande śāstra da astrologia em seis aṅgas: (1) Jātaka; (2) Gola; (3) Nimitta; (4) Praśna; (5) Muhūrta; e (6) Gaṇita.
Śloka 7 — O Gaṇita Skandha trata de Gola e Gaṇita. O Horā Skandha trata de horóscopia (jātaka), praśna, muhūrta e uma parte de nimitta. O Saṁhitā Skandha lida extensivamente com nimitta.
Śloka 8 — A Saṁhitā também trata das fortunas variáveis das pessoas, das mudanças no clima e do progresso do reino animal. Ela esboça também a natureza e a forma dos meteoros, estrelas cadentes e todos os maravilhosos fenômenos naturais.
NOTAS DA TRADUTORA — A astrologia é dividida em três seções principais (skandhas):
– Gaṇita (astronomia matemática),
– Horā (horóscopia preditiva) e
– Saṁhitā (coletânea de presságios e fenômenos naturais) e é algo aceito por quase todos os grandes ṛṣis.
Varāhamihira confirma essa classificação quando observa em seu Bṛhat Saṁhitā (trecho referenciado no original): "... significando que a astrologia possui diversas subdivisões, mas pode ser convenientemente reunida sob três seções específicas: Gaṇita (astronomia), Horā (horóscopia) e Śākhā (matemática astrológica)."
Definições técnicas dos seis aṅgas (Śloka 6): (1) Jātaka → Lida com as predições baseadas no signo ascendente (lagna) no momento do nascimento.
(2) Gola → Trata dos sistemas planetários, suas naturezas e peculiaridades, ou seja, astronomia esférica. (3) Nimitta → Considera os tatkālika lakṣaṇas, popularmente conhecidos como presságios (nimitta) observados num determinado momento, e realiza predições com base em certos gestos. (4) Praśna → Refere-se às predições baseadas no momento exato em que uma pergunta (praśna) é feita. (5) Muhūrta → Diz respeito à escolha de momentos auspiciosos (śubha muhūrta) para alcançar sucesso em empreendimentos religiosos, seculares ou espirituais. (6) Gaṇita → Em termos gerais, refere-se à astronomia matemática e à astrologia matemática. Definições Sobre os três skandhas (Ślokas 7–8): Os detalhes do que cada skandha trata estão explicados nos ślokas 7 e 8, e um trecho adicional do Bṛhat Saṁhitā (da tradução inglesa em preparação) esclarece o escopo da Saṁhitā: (1) “A Saṁhitā lida com os movimentos do Sol (sūrya) e dos planetas (grahas); suas naturezas, dimensões, cores, raios, brilho e formas; seus nascimentos e poentes; seus cursos regulares e desvios; seus movimentos retrógrados e semi-retrógrados; suas conjunções com os nakṣatras e suas posições em relação a outros planetas e constelações. Ela trata das influências dos movimentos de Agastya e Saptarṣi sobre diferentes regiões associadas a determinados nakṣatras e planetas; das divisões estelares; das interpretações de aparências em encontros planetários; da guerra planetária (graha yuddha) e conjunções (saṁgama); dos anos planetários; da natureza das nuvens grávidas; dos yogas de Rohiṇī, Svātī e Āṣāḍha; das previsões de chuvas iminentes; da natureza das colheitas futuras considerando o crescimento de flores e plantas; dos fenômenos de halos (paridhi e pariveṣa); de parigha, ventos, quedas de meteoros, fogos falsos, tremores de terra, céu avermelhado ao entardecer; das fortalezas de nuvens, tempestades de poeira, raios; das previsões comerciais e da jardinagem. Ela aborda indradhvaja (bandeiras de Indra), arco-íris, construção de casas e arquitetura (vāstu), aṅga vidyā (ciência dos membros); das predições a partir do grasnar dos corvos, de diagramas zodiacais; das predições futuras com base em fenômenos relacionados ao cervo, cavalo e vento; da construção de templos e palácios; do entalhe de imagens e sua instalação; da arboricultura e das correntes subterrâneas; das predições a partir do voo do pássaro kañjana e de fenômenos anômalos; das śānti (cerimônias propiciatórias); de vários fenômenos planetários, ghṛta-kambala, khaḍga e paṭṭi; das características de galo, caranguejo, vaca, cabra, cavalo, elefante, homem e mulher. Ela também trata de assuntos ligados a haréns; de sinais corporais (tilaka), danos a calçados e roupas, abanadores de pelos (cāmara), bastões (daṇḍa), roupas de cama, assentos; da testagem de pedras preciosas, lâmpadas, escovas de dente e similares.”
3. QUEM PODE ESTUDAR ASTROLOGIA?
Śloka 9 — A astrologia (jyotiṣaśāstra) também pode ser dividida em duas partes, a saber: Pramāṇa e Phala. O Gaṇita Skandha (seção de cálculos e astronomia matemática) pertence a Pramāṇa, enquanto os outros dois skandhas — Horā e Saṁhitā — caem sob Phala (resultados preditivos).
NOTAS: O Gaṇita (astronomia matemática) pertence ao domínio de pramāṇa, pois o teste da verdade aqui é efetivamente demonstrativo: a verdade é percebida por meio de medições e cálculos. Por outro lado, phala (resultados) não é capaz de demonstração imediata, pois baseia-se no fenômeno de causa e efeito. O horóscopo (jātaka cakra) simplesmente indica os frutos (phala) do karma prévio de um indivíduo. Assim, o futuro do homem é apenas o resultado (phala) de suas ações passadas.
Śloka 10 — Os Vedas possuem seis membros (ṣaḍaṅga), a saber:
Jyotiṣa, Kalpa, Nirukta, Śikṣā, Vyākaraṇa e Chandas.
Śloka 11 — Para os Vedas, os seis membros principais correspondem a partes do corpo (aṅga):
– os pés (pāda) → Chandas,
– o rosto (mukha) → Vyākaraṇa,
– as mãos (hasta) → Kalpa,
– os olhos (cakṣuḥ) → Jyotiṣa,
– o nariz (nāsikā) → Śikṣā,
– as orelhas (karṇa) → Nirukta.
Śloka 12 — Como a astrologia (jyotiṣa) é considerada os olhos (cakṣuḥ) dos Vedas, ela recebe o lugar de honra. Nenhuma pessoa que possua todos os órgãos intactos, mas careça de visão, pode ter verdadeira individualidade (puruṣatva).
NOTAS: Os ślokas 10 a 12 destacam a importância do jyotiṣa.
Os Vedas possuem seis aṅgas (auxiliares):
– Chandas (métrica),
– Vyākaraṇa (gramática),
– Kalpa (procedimentos rituais),
– Śikṣā (fonética),
– Nirukta (etimologia),
– Jyotiṣa (astrologia).
Dentre estes, Jyotiṣa é considerado o primeiro e mais importante, pois representa os olhos (cakṣuḥ) do corpo-vivo dos Vedas (Veda Puruṣa). Chandas Śāstra trata dos ṛṣis e das deidades métricas (Chanda Devatās) mencionadas nos Vedas, constituindo a base, os pés. Vyākaraṇa ou śabda śāstra trata das peculiaridades gramaticais encontradas nos Vedas — é o rosto. Kalpa trata dos procedimentos nos sacrifícios (yajña) e dos deveres (dharma) dos sacerdotes sacrificiais — representa as mãos. Śikṣā preocupa-se com os sons e a fonética dos Vedas — é o nariz. Nirukta trata do significado especial das palavras e sons védicos — são as orelhas. Chandas, Kalpa e Vyākaraṇa aparecem sob a forma de sūtras. Nirukta é em prosa, enquanto Śikṣā e Jyotiṣa são em forma de versos. Mas Jyotiṣa, ou astrologia, é, sem dúvida, o mais vital desses membros, por ser os olhos do Veda Puruṣa.
A alusão, feita no śloka 12, à falta de individualidade na ausência da visão (cakṣuḥ), serve para enfatizar a supremacia da visão (isto é, astrologia) em relação a todos os outros membros (aṅgas) do corpo dos Vedas.
Śloka 13 — A elevada e profunda ciência da astrologia (jyotiṣa) deve ser estudada apenas por brāhmaṇas. O estudo adequado desta ciência conduz à aquisição de riqueza (dhana), mérito (puṇya), liberação (mokṣa), respeito e fama (kīrti).
Śloka 14 — Quando até mesmo mlecchas e yavanas bem versados em astrologia são tidos em igual estima aos ṛṣis, quem ousaria negar respeito a um astrólogo que seja um brāhmaṇa?
NOTAS: Embora o śloka 13 implique que o estudo de jyotiṣa devesse ser restrito apenas aos brāhmaṇas, o śloka 14, ao referir-se a yavanas (gregos) e mlecchas (estrangeiros) bem versados na ciência astrológica e sendo honrados como ṛṣis, deixa claro que qualquer pessoa inteligente, independentemente de casta, credo ou religião, pode se dedicar ao estudo desse assunto, desde que devidamente iniciado. O termo brāhmaṇa, longe do entendimento superficial, refere-se àquele que leva uma vida simples e piedosa. O ṛṣi Vyāsa, no Mahābhārata, afirma:
“jātyā jāyate śūdraḥ, saṁskārād dhi dvijaḥ smṛtaḥ, vedapāṭhād bhaved vipraḥ, brahma jānāti iti brāhmaṇaḥ.”
“Todos nascem śūdras; tornam-se dvija (renascidos) através dos saṁskāras; tornam-se vipras por estudar os Vedas; e aquele que conhece o Brahman é verdadeiramente um brāhmaṇa.”
O mesmo sentido é expresso no Śrīmad Bhagavad Gītā, onde Śrī Kṛṣṇa declara que a divisão quádrupla (cāturvarṇya) é baseada na natureza (guṇa) e na ação (karma) de cada um. Assim, para o Senhor, brāhmaṇas são aqueles que levam vidas devotas, pacientes, calmas, autocontroladas e são buscadores do conhecimento. O śloka 14 é, de fato, uma reprodução do śloka 15 do capítulo II do Bṛhat Saṁhitā. Sobre os termos Mleccha e Yavana. É difícil definir precisamente o termo mleccha. Contudo, por uma análise cuidadosa da literatura ligada ao pensamento científico antigo, pode-se inferir que os habitantes do Afeganistão, Arábia e Pérsia provavelmente eram os designados por mleccha. Não é correto sugerir que mleccha signifique nīca (baixo, vil). Pelo contrário, o termo mleccha indicava uma pessoa habitante de uma determinada região, identificável como a faixa que começa no Afeganistão e se estende até o Irã moderno. Já os yavanas eram, evidentemente, os gregos. Este śloka nos fornece pistas de que os hindus antigos mantinham relações culturais com o Oriente Médio e países do sul da Europa. De fato, os escritos astrológicos dos Yavanācāryas parecem ter sido tão altamente estimados por um cientista celebrado como Varāhamihira, que ele não hesita em conceder-lhes o respeito devido a um Maharṣi. Houve considerável intercâmbio entre as culturas indiana, grega e árabe na época de Varāhamihira, embora não se possa negar que todas essas civilizações eram profundamente devedoras da Índia — a mãe de todas as artes e ciências.
4. QUALIFICAÇÕES DE UM ASTRÓLOGO
Śloka 15 — A pessoa que possui domínio sobre esta ciência (śāstra), que tem bom conhecimento de matemática, que leva uma vida religiosa, que é veraz, livre de vaidade, e bem versada nos Vedas, mantras e tantras — somente ela pode ser chamada de daivajña (vidente, conhecedor do destino).
Śloka 16 — Todas as previsões feitas por tal pessoa se tornarão verdadeiras e nunca serão falsas. Os sábios (āryas) sustentam e apoiam esta afirmação.
Śloka 17 — As previsões daquele que estudou os dez tipos de movimentos planetários (daśa-gati) e que compreendeu os princípios internos da astrologia nunca serão refutadas nem falseadas.
Śloka 18 — Aquele que adquiriu profundo conhecimento das diferentes horās, que é adepto dos cinco siddhāntas, que possui habilidade inferencial (anumāna-śakti), e que foi iniciado em um mantra secreto por um preceptor autorizado (guru), é o único que pode realmente dominar a arte da horoscopia (jātaka-śāstra).
NOTAS: As qualificações de um astrólogo foram estabelecidas nos Ślokas 15 a 18. A esse respeito, pode-se também fazer referência a qualificações semelhantes estabelecidas por Varāhamihira em sua Bṛhat Saṁhitā. Aquele que deseja ser um preditor correto não deve apenas ser um adepto em astrologia (jyotiṣa), astronomia (gaṇita), Vedas e mantra-śāstra, mas também deve ser um homem de caráter íntegro, religioso, justo e ter obtido siddhi (realização) em certos mantras secretos, que conferem ao astrólogo um incrível poder de previsões corretas. Varāhamihira chega ao ponto de sugerir que o astrólogo deve ser de nascimento nobre e de aparência agradável. A humildade deve caracterizar seu comportamento. Seus hábitos pessoais devem ser disciplinados e acima de qualquer reprovação. Ele deve ser bem versado em cerimônias rituais e expiatórias. Também deve estar capacitado para resolver independentemente problemas específicos e particulares. Uma vida disciplinada, fé em Deus, uma natureza prestativa e adesão escrupulosa a certos tipos de austeridade (tapas) permitirão que ele desenvolva seu poder de intuição, o qual se tornaria um recurso considerável para quem aspira ser um astrólogo de sucesso. Os “dez tipos de cálculos astrológicos” mencionados no Śloka 17 são explicados nas duas stanzas seguintes. O Śloka 18 também pode ser encontrada em uma forma ligeiramente variada no Satya Saṁhitā.
5. DIFERENTES TIPOS NA GAṆITA
Ślokas 19 e 20 — O dia de Kali, as posições médias dos planetas, as posições verdadeiras dos planetas, eclipses solares, eclipses lunares, guerras planetárias (graha-yuddha), combustão (asta), conjunções lunares, elevações e configurações heliacais, e conjunções planetárias com constelações são considerados os dez tipos de cálculos.
NOTAS: Como não me proponho a explicar o aspecto astronômico da astrologia, encaminho os leitores a obras como Sūrya Siddhānta e Siddhānta Śiromaṇi para elucidação das referências astronômicas. O astrólogo é esperado estar completamente familiarizado com o método de cálculo de eclipses, longitudes planetárias, surgimentos e ocultações heliacais (astha-udaya) e outros fenômenos astronômicos. O “dia de Kali” é o número de dias decorridos desde o início do Kali Yuga até a época em questão. A posição média de um planeta é a posição que ele teria alcançado supondo um movimento uniforme, sem considerar as correções relativas à excentricidade de sua órbita. A longitude média é calculada assumindo que as órbitas planetárias são círculos concêntricos. Contudo, como as órbitas reais são elípticas e não circulares, aplicam-se equações corretivas às posições médias para obter as longitudes verdadeiras. Diz-se que dois planetas estão em “guerra” (graha-yuddha) quando estão em conjunção e a distância entre eles é inferior a um grau. Todos os planetas, exceto Sūrya e Candra, podem entrar nessa “guerra”. O planeta vencedor é aquele cuja longitude é menor. O cenário heliacal (asta) e o surgimento (udaya) dos planetas ocorrem quando eles estão a certas distâncias do Sol. Por exemplo, Júpiter pode se tornar asta quando está a uma distância de 11° do Sol. O Sūrya Siddhānta fornece os seguintes limites para a combustão dos planetas:
- Maṅgala (Marte): 17°
- Budha (Mercúrio): 12° (retrógrado), 14° (direto)
- Bṛhaspati (Júpiter): 11°
- Śukra (Vênus): 8°
- Śani (Saturno): 15°
Para uma apreciação mais aprofundada da importância astrológica da combustão, pode-se consultar a edição especial (setembro de 1978) da Revista Astrológica, dedicada principalmente a esse tema. Os cálculos relacionados a Candra-saṅgama (conjunções lunares), eclipses, etc., envolvem operações matemáticas detalhadas que não me proponho discutir aqui.
NOTA FINAL: Os almanaques náuticos modernos fornecem todos os detalhes astronômicos necessários para fins astrológicos.
6. OS CINCO SIDDHĀNTAS
Śloka 21 — Os cinco siddhāntas são: Brahma, Sūrya, Vasiṣṭha, Romaka e Paulasa.
Ślokas 22–23 — O Brahma Siddhānta é preciso; o Romaka Siddhānta é ainda mais preciso; e o Sūrya Siddhānta é o mais preciso entre todos. O Vasiṣṭha e o Paulasa não são precisos. Assim, os três primeiros são confiáveis, enquanto os dois últimos são considerados arcaicos em caráter.
NOTAS: A astronomia hindu faz referência a 18 siddhāntas, a saber: Sūrya, Paitāmaha, Vyāsa, Vasiṣṭha, Atri, Parāśara, Kāśyapa, Nārada, Garga, Marīci, Manu, Aṅgirasa, Lomasa, Paulasa, Yavana, Cyāvana, Manu (novamente mencionado) e Śaunaka. Dentre estes, apenas cinco parecem ter merecido a admiração de Varāhamihira, que, como será visto posteriormente, é geralmente a fonte de inspiração para nosso autor. Segundo este autor, os siddhāntas de Paitāmaha (ou Brahma), Romaka e Sūrya são confiáveis, enquanto os de Vasiṣṭha e Paulasa não são precisos. Contudo, Varāhamihira, em sua obra Pañca-siddhāntikā (um resumo justamente desses cinco siddhāntas), afirma claramente que o siddhānta elaborado por Paulasa é preciso; em seguida vem o siddhānta de Romaka; e o mais preciso de todos é o Saura (Sūrya). Os dois restantes — Paitāmaha e Vasiṣṭha — estariam, segundo ele, distantes da verdade. Romaka e Sūrya são ambos aceitos como precisos por Varāhamihira, embora o lugar de honra seja invariavelmente dado ao Sūrya Siddhānta.
7. COMEÇANDO O ESTUDO DA ASTROLOGIA
Śloka 24 — Deve-se obter iniciação (dīkṣā) no mantra apropriado junto a um guru qualificado, em um momento auspicioso, e propiciar o devatā do mantra, a fim de gerar bênçãos. Isso capacitará o aspirante a dominar todo o conhecimento astrológico.
Śloka 25 — Uma pessoa inteligente, calma e piedosa deve começar o estudo da astrologia em um dia auspicioso, quando Bṛhaspati (Júpiter) estiver no Lagna e Candra (a Lua) ocupar um mṛdu (suave/benéfico) e śīghra (rápido) varga.
NOTAS: Os mṛdu vargas (divisões suaves) e os śīghra vargas (divisões rápidas) são interpretados por alguns como os vargas de Budha (Mercúrio). Segundo outra leitura, os mṛdu vargas correspondem aos nakṣatras Mṛgaśīrṣa, Anurādhā e Revatī, enquanto os śīghra vargas são Aśvinī, Hastā e Puṣya.
Śloka 26 — O estudo desta ciência deve ser iniciado somente após a devida adoração (pūjā) aos nove planetas (navagrahas) e ao preceptor (guru) na forma prescrita.
NOTAS: Além de serem grandes massas de matéria, os planetas também possuem um aspecto sutil ou espiritual. As pūjās aos navagrahas destinam-se a estabelecer algum tipo de ressonância entre as vibrações do pensamento humano e aquelas emanadas dos corpos planetários.
Śloka 27 — Os mantras, quando devidamente praticados e recitados, conferem os resultados desejados. Assim também esta ciência, quando devidamente cultivada, produz seus frutos.
8. IMPORTÂNCIA DE VARĀHAMIHIRA
Śloka 28 — O Bṛhat Jātaka de Varāhamihira, embora curto, é um tratado muito sugestivo, repleto de ideias. Embora difícil de ser compreendido mesmo por pessoas inteligentes, ainda assim, com a ajuda dos comentários de Bhattotpala e outros, é possível entender este livro.
NOTAS: Compare-se a própria admissão de Varāhamihira: (…) o que significa que sua obra é “concisa, de métrica diversa e cheia de significado”.
Śloka 29 — Quem usa a guirlanda (mālā) de Varāhamihira no pescoço, junto com o colar de Kṛṣṇīya, pode ganhar louros em qualquer assembleia astrológica.
NOTAS: O Bṛhat Jātaka trata de horoscopia, enquanto o Kṛṣṇīya lida com Praśna (astrologia horária). Alguém bem familiarizado com esses dois livros pode, de acordo com o autor, reivindicar com segurança uma sólida erudição.
Śloka 30 — Um astrólogo que deseja fazer previsões deve estudar especialmente o Daśādhyāyī com atenção e cuidado.
Śloka 31 — Sem um estudo aprofundado do Daśādhyāyī, seria difícil fazer previsões corretas — assim dizem os eruditos.
Śloka 32 — Aquele que tenta prever sem estudar o Daśādhyāyī seria como um homem tentando cruzar um oceano sem um barco.
NOTAS: Vários comentários foram escritos sobre o Bṛhat Jātaka, sendo Bhattotpala o mais popular, e o Daśādhyāyī o mais profundo e recôndito. O autor do Praśna Mārga parece ter tido grande consideração pelo Daśādhyāyī, considerando esse comentário como um barco adequado para cruzar o grande oceano do conhecimento astrológico. Como o nome indica, o Daśādhyāyī é um comentário apenas sobre os primeiros dez capítulos do Bṛhat Jātaka. O nome do comentarista ainda permanece obscuro, embora alguns sustentem que um tal Govinda Somayāji tenha escrito esses comentários. O motivo pelo qual ele escolheu comentar apenas dez capítulos permanece inexplicável. Ele certamente tinha seus próprios motivos. Um estudo cuidadoso do Daśādhyāyī revela que o comentarista tentou, de forma muito inteligente, ler alguns significados secretos ou ocultos nos escritos de Varāhamihira, diferentes daqueles que normalmente se deduziriam. Para gratificar a curiosidade dos leitores quanto à singularidade do Daśādhyāyī, refiro-me apenas ao primeiro śloka do Capítulo I do Bṛhat Jātaka. A primeira linha desse śloka é assim: (…) Esse śloka, de acordo com Bhattotpala, é meramente uma invocação dirigida ao grande e glorioso Sūrya. Mas o Daśādhyāyī vê nele uma variedade de significados, consistentes com a própria afirmação de Varāhamihira no Śloka 2 do Capítulo I do Bṛhat Jātaka. Diz-se que o método de lançar horóscopos desconhecidos (Naṣṭa Jātaka) está contido nesse śloka, além de outros significados igualmente importantes. Cada palavra do śloka, além do que normalmente conota, supõe-se representar algum outro significado. Assim, enquanto pela palavra mūrttitve entende-se um dos aṣṭamūrti de Śiva (vide Tradução para o Inglês de Bṛhat Jātaka por B. Suryanarain Rao), também se diz que implica mūrttibhāva ou Lagna. Da mesma forma, cada palavra do śloka é considerada capaz de múltiplos significados e interpretações. Novamente, tomando as palavras mūrttitve-parikalpitaśśaśabṛtha: Para começar, mūrttitve é convertido em números. Disto, o número parika deve ser subtraído. Do restante obtido, subtraindo parika de mūrttitve, o número de pitha, após ser invertido, deve ser subtraído (o comentário diz que o número pitha deve ser subtraído somente após ser invertido, śodhayet vilomena). Então, a esse restante, o número śaśa deve ser adicionado. Isso dá o número de ślokas contidos no Bṛhat Jātaka. Quando calculado, obtemos:
1 O número de mūrttitve é 465 (pois tve = 4, rthi = 6, mu = 5).
2 O número para parika é 121.
3 Quando (2) é subtraído de (1), obtemos 465 - 121 = 344.
4 Disto, o número para pitha = 61 deve ser subtraído após ser revertido → 344 - 16 = 328.
5 A esse 328, o número para śaśa deve ser adicionado → 328 + 55 = 383.
Este é o número total de ślokas contidos na obra Bṛhat Jātaka. As observações acima, espera-se, dão ao leitor uma ideia de como o autor do Daśādhyāyī tentou interpretar o Bṛhat Jātaka.
9. PAPEL DO JĀTAKA E DO PRAŚNA
Śloka 33 — Um homem nasce neste mundo para desfrutar ou sofrer as consequências de suas ações de aniversários passados. Uma parte disso ele colhe no céu ou no inferno, mas para o remanescente ele tem que nascer de novo.
Śloka 34 — Existem dois tipos de karma, a saber: sañcita (acumulado) e prārabdha (iniciado). Os efeitos do sañcita karma serão exauridos no céu ou no inferno. O resultado do prārabdha karma será diminuído apenas por meio da experiência direta, vivendo-os.
NOTAS: Nos Ślokas 33 e 34, a teoria do karma é exposta de forma criptográfica. O assunto do karma é tão vasto que seria impossível fazer-lhe justiça por meio de uma nota curta. O karma tem seus aspectos filosóficos e também astrológicos. O autor deste trabalho tenta explicar que o sañcita karma pode ser exaurido por nossa permanência no céu ou no inferno, enquanto o prārabdha karma deve necessariamente ser experimentado nesta vida. O prārabdha karma, ao final desta vida, resultará em nosso renascimento — este ciclo de nascimentos e mortes prossegue até a obtenção do jñāna, ou conhecimento verdadeiro. Tratei exaustivamente da teoria do karma em meu livro Astrology and Modern Thought e eu o recomendo aos meus estimados leitores para obter mais detalhes. (B.V. Raman)
Śloka 35 — As almas nascem de novo para colher os frutos de vidas anteriores. Este ciclo de nascimentos continua até a obtenção do mokṣa.
Ślokas 36 e 37 — Assim como uma lâmpada ilumina objetos na escuridão, a astrologia nos revela os efeitos de nosso karma anterior, bom ou ruim. Todos os planetas indicam claramente se estamos desfrutando ou sofrendo agora como resultado de nossas ações em nosso nascimento anterior.
10. IMPORTÂNCIA DE MUHŪRTA
Śloka 38 — O que é feito em um momento auspicioso resulta em felicidade. O que é feito em um momento desfavorável gera o mal. Por mais remotas que sejam nossas ações, os resultados certamente serão vividos dentro da família.
NOTAS: De acordo com o Śloka 36, a astrologia apenas indica os resultados do karma passado. Os planetas são apenas um índice das coisas que acontecem e não os causadores diretos dos eventos. Essa definição deve nos permitir apreciar o real significado e o escopo da astrologia e sua relação com a teoria do karma. Os Ślokas 37 e 38 repetem a mesma ideia. Também se sugere no Śloka 38 que o karma acumulado durante o nascimento anterior pode ser experimentado não apenas pela pessoa em questão, mas também por seus descendentes.
Śloka 39 — O saldo do bom ou mau karma trazido do nascimento anterior é chamado de prārabdha, e é a leitura disso que leva o nome de Jātaka ou astrologia.
Śloka 40 — A pessoa sofre as consequências do seu karma anterior desde o nascimento até a morte, e isso pode ser conhecido a partir de seu horóscopo. Então, qual é a utilidade do praśna?
NOTAS: Como o nome do livro indica, Praśna Mārga tem a ver principalmente com praśna, ou astrologia horária. Contudo, quase todos os princípios podem ser usados com vantagem também na interpretação de horóscopos radicais (janma-kunḍalī). No Śloka 40, o autor questiona a utilidade de um gráfico de praśna quando a horoscopia já pode lidar com todos os eventos importantes. Ele responde à pergunta nas ślokas seguintes:
Śloka 41 — O praśna nos revela se um homem colhe os frutos de suas ações de seu nascimento anterior ou os frutos de suas ações realizadas neste nascimento. Aqui surge uma pergunta.
Śloka 42 — Como podemos distinguir se é o resultado de nosso karma anterior ou atual que está produzindo seus efeitos agora?
Śloka 43 — Se o horóscopo (janma-kunḍalī) mostra padrões planetários benéficos e o mapa de praśna apresenta padrões maléficos, então deve ser entendido que o nativo está experimentando os frutos do mau karma cometido neste nascimento.
NOTA: (Explicação: o mapa natal mostra bons resultados em alguma área da vida, mas o gráfico de praśna mostra resultados ruins para a mesma área — isso significa que o bom prārabdha karma que seria desfrutado nesta vida está sendo queimado por atos pecaminosos atuais, mudando assim o destino.) Se for o inverso — um karma ruim no mapa natal, mas bons sinais no praśna — então o nativo está experimentando os efeitos do bom karma realizado neste nascimento (ou seja, o karma pendente, que era considerado ruim em certa área da vida no mapa natal, foi neutralizado por ações boas/piedosas nesta vida, e os resultados se tornaram positivos).
Śloka 44 — Se os padrões planetários no horóscopo, bem como no gráfico de praśna, forem semelhantes, então um astrólogo inteligente deve concluir que o nativo está experimentando exclusivamente os frutos de seu karma passado.
NOTAS: Nos ślokas 41 a 44, o autor explica as utilidades relativas do praśna e dos mapas de nascimento. Há uma ênfase repetida nas influências do karma e na importância do praśna para descobrir a natureza do karma a ser desfrutado neste nascimento. O horóscopo por si só revela a natureza do karma passado, enquanto o mapa de praśna atua como uma espécie de suplemento ao mapa de nascimento. Suponha que vejamos no horóscopo (janma-kunḍalī) de um homem um bom período (daśā) e, numa consulta (praśna) realizada naquele momento, um período muito ruim; então devemos assumir que a pessoa está colhendo os efeitos ruins de seu karma feito nesta vida. Por outro lado, suponha que vejamos em seu horóscopo um período ruim e, no gráfico de praśna, um período bom; deve-se inferir que a pessoa está colhendo os efeitos favoráveis das boas ações realizadas somente neste nascimento. Se o horóscopo e o praśna forem semelhantes em posições e combinações, então a pessoa está colhendo os resultados do karma feito em seu nascimento anterior. Uma vez que algum tipo de equilíbrio entre os gráficos de nascimento e o praśna está envolvido, fica claro que as indicações atuais no mapa de nascimento — ou seja, as indicações obtidas no momento da consulta, como as disposições benéficas e maléficas dos atuais senhores das daśās, yogakārakas, etc. — devem ser estudadas junto com o gráfico de praśna para se conhecer precisamente a natureza do karma que está sendo experimentado agora.
11. SIMILARIDADE ENTRE PRAŚNA E JĀTAKA
Śloka 45 — O gráfico de praśna deve ser lido assim como o horóscopo (jātaka) é examinado, considerando seus méritos e deméritos relativos.
Śloka 46 — Uma pessoa vai a um astrólogo movida pela vontade da Providência para saber seu futuro. Portanto, há uma grande semelhança entre o praśna e o jātaka.
Śloka 47 — Como o praśna lagna é semelhante ao janma lagna, todos os eventos devem ser lidos a partir do praśna exatamente como se faria em um horóscopo.
NOTAS: A soma e a essência desses três ślokas é que o momento da pergunta (praśna) deve receber a mesma importância que a hora do nascimento. Os nascimentos humanos são regulados de acordo com a lei do karma e, portanto, o momento do nascimento é significativo. Da mesma forma, quando uma pessoa procura um astrólogo para determinar seu futuro, ela é movida por uma força divina (daivayoga), e, por isso, o momento da pergunta é igualmente importante. Não há dúvida de que existem certos pontos de diferença na leitura dos gráficos de praśna e dos horóscopos (janma-kunḍalī). Esses pontos são discutidos pelo autor em seus lugares apropriados, especialmente nos capítulos XIV e XVII. Contudo, a menos que especificado de outra forma, todos os eventos revelados em um horóscopo também podem ser lidos em um gráfico de praśna. Os princípios apresentados neste tratado podem ser usados com grande vantagem no estudo dos horóscopos.
Assim termina o 1º capítulo da Praśna Mārga.
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